Background
Era um dia comum, mais um dia qualquer... Não havia nada de importante neste dia, nem uma lembrança em especial, há não ser minha decisão, acordei por volta das 10 horas, tomei um banho, comi alguma coisa que eu não me lembro, nem sei se gostei ou não do que comi, simplesmente não me lembro do que comi, ações sistemáticas são sempre facilmente esquecidas, toda vez que tento lembrar de algo que faço como rotina acabo falhando. Falhei varias vezes, muitas destas falhas foram comigo mesmo, isso me martirizou por um bom tempo, mas agora tudo isso não tinha mais importância, só o que importava era o meu plano, há uma decisão, só tinha que sair do teórico e colocar na pratica simples, certo?
Peguei um ônibus rumo ao metro, meu plano era simples, e com este singelo gesto eu coloquei-o em pratica, me alojei ao lado da janela, no assento mais alto, queria ver a vista, sempre via a mesma paisagem, mas neste dia tinha algo de diferente, talvez o fato de ser simplesmente o começo da minha decisão ou o fato de eu ter compreendido finalmente como cada momento e único e diferente, sei que isso foi redundância, mas não pedirei desculpas por isso.
Foi uma rápida viagem, menos de 20 minutos, como de costume eu escutava musica, nunca consegui ficar muito tempo sem musica, era um fato! eu precisava de musica, meu combustível eram notas musicais... Eu era mais um, mais um na multidão, com a única diferença que eu estava colocando minha decisão em pratica, as pessoas que ao meu lado estavam, não tinham a menor importância para mim, um bando de desconhecidos que eu nunca saberia o nome, contudo, eu também era um desconhecido para elas, nunca saberiam o meu nome... Pensava sobre isso em quanto Radiohead gritava em meus ouvidos, a bela melodia deles, conclui que nada do que pensei nos últimos 20 minutos tinha uma real importância, me condicionei a ser mais um, as pessoas ao meu redor e além delas, se condicionaram também, vivo num mudo de condicionamento e massificação.
Isso não é culpa de ninguém, tudo isso começou com um desleixo, gosto de pensar que isso aconteceu porque alguém estava cansado de ser diferente e quis ser igual a todos, o restante gostou da idéia e assim surgiram as grandes massas, brancos, negros, indígenas, católicos, evangélicos, espíritas, mulçumanos, judeus, pagãos, entre tantas formas de uma massificada diferenciação, ridícula e fadada ao mais pífio fracasso... mas isso não é problema meu, minha decisão me tirava deste patamar e me colocava em meu devido lugar, minha decisão era simples, era poder Escolher o que eu quero fazer, qual o problema de gostar de um determinado tipo de musica e não de outro? Tem gente que gosta de pagode, eu prefiro outra trilha sonora para minha singular vida, isso não me faz superior ou inferior a outro, só é uma pequena parte do que eu sou.
Fiz a primeira baldeação, peguei um novo trem, rumo ao Paraíso, irônico... já que minha decisão passava por um lugar que se chama Paraíso, adoro a Paulista, toda a frieza e correria que lá está, nunca tive tanta vontade de morar em um lugar como tive de morar na Paulista, coisas do passado, já que agora minhas escolhas me levavam a um lugar bem mais simples e discreto. Depois de alguns minutos eu percebi que estava em movimento, foi justamente quanto um cara, com mais ou menos a mesma idade que eu tinha passou por mim, ele conseguiu ser o cara mais estúpido que eu já tinha visto, custa pedir com licença antes de passar? A meu ver não. Mas para ele custava, custava tanto que escutei, mesmo com os fones de ouvido no máximo, os outros passageiros reclamando, engraçado perceber que isso não mais me incomodava, eu tinha um propósito, tinha uma decisão a colocar em pratica, não era um rapaz mal educado que me atrapalharia... Radiohead continuava a gritar em meus ouvidos, isso era um fato bom que me agradava.
Desci no Paraíso, sempre escutei um dito popular extremamente ridículo, o casamento e que nem a Paulista, começa no Paraíso e terminha na Consolação, eu resolvi seguir este caminho, andei do Paraíso até a Consolação, neste meio tempo, comecei a realmente ver o que era a tão linda e caótica Avenida Paulista, seus altos edifícios, sua frieza e agitação, percebi como era estranho... na realidade a Paulista não era a avenida da frieza, às pessoas que lá estavam eram frias, nunca ninguém parava para analisar aquela beleza cinza... isso dominou a minha mente por um tempo, até que um morador de rua roubou a minha atenção, segui ele com os olhos, o ar me trazia o cheiro fedido, pútrido e nefasto dele, como alguém pode chegar a tal ponto? Ele deve ter alguma coisa, alguma coisa dever fazer com ele lute todos os dias para estar vivo, achei graça desta ‘coisa’, não estava de chacota com ele, mas é engraçado (no bom sentido) ver uma pessoa lutando para ser alguém, a parte cômica fica nas perguntas, para que ser alguém? Ou, isso é tão importante a ponto de fazer com que alguém jogue a própria vida no lixo a ponto de querer ser alguém? Também temos, Vale tanto a pena ser reconhecido por um monte de gente? Dou graças por não saber a resposta para estas questões...
O mendigo se foi... nunca gostei do termo mendigo, sempre preferi o eufemismo “morador de rua”, acho mais valido. Ele se foi eu continuei indo, indo rumo a Consolação, parei quando vi um chinês na rua vendendo maçarão, fui a passadas largas, firmes e rápidas na direção dele, comprei o dito maçarão e o devorei na rua mesmo, um ato bem paulistano, não há nada mais paulistano do que comer na rua para não perder tempo... Terminado o ato da alimentação, não hesitei ascendi um bendito (e amado) cigarro, e voltei a minha jornada, não demorei muito até chegar a Consolação, fui até o final da Paulista, minha mente funcionava a mil por hora, vários pensamentos me assolavam, não dei muita atenção a eles, para que? me perguntava... continuei a andar e quando estava a um passo de sair da grandiosa e bem vista Avenida Paulista, eu, com total simplicidade dei um giro e me dirigi até o Vão Livre do MASP, adorei o MASP desde o dia que eu o vi pela primeira vez.
Mágico, era este o adjetivo que eu utilizava para defini-lo, nenhum outro termo teria o mesmo impacto, somente este termo era bem vindo a minha mente... Por este e mais trilhões de motivos eu decidi que o final mais apropriado para a conclusão da minha decisão era o Mágico MASP, um lugar que guarda cultura, teria uma coisa a mais para guardar, fiquei tentado em dar uma rápida passada pela Rua Augusta, mas não, não podia, simplesmente não podia desvirtuar a minha decisão, teria que ser forte por isso, deveria ter pensado na Rua Augusta antes, foi uma pena eu ter esquecido-a, realmente uma pena lastimável, decidi que minha entrada no Vão Livre seria magistral, olhei bem em quanto me aproximava, decidi ir bem pelo meio, todos, todos que estavam naquele lindo lugar me veriam chegar, fui andando com um ar imperial, eu era a Impetuosidade, parei no meio do pátio, acendi outro cigarro e o terminei ali mesmo, fiquei um 10 minutos parado olhando ao meu redor, vendo a cidade, eu me senti como uma extensão da cidade, uma parte viva dela.
As pessoas me olhavam com certa curiosidade, ficavam pensando como alguém simplesmente pararia no meio do suntuoso Vão Livre do MASP, a meu ver era um lugar tão simples e minimalista que se tornava suntuoso, alguns pensavam que eu era um turista, outros mais agressivos pensavam que eu era um turista idiota, alguns só idiotas, mas eu era uma pessoa que tinha uma decisão e ponto final, nem uma coisa nem outra, era simplesmente uma pessoa que demorou muito tempo, mas que finalmente decidiu o que ia fazer da própria vida, a muito custo eu dei o passo que iniciaria a ultima etapa da minha jornada, era um pequeno começo, um único passo que representaria um grande e glorioso clímax, o clímax de toda uma vida.
Então eu andei. Simples assim... eu andei não muito verdade seja dita, não dei um misero minuto de caminhada, mas eu andei! Todos me olhavam, não senti medo ou vergonha por ser, por alguns instantes o centro das atenções, não olhava para o lado, nem para baixo, muito menos para cima, meu foco estava bem a minha frente, para lá que eu olhava, para frente, somente para frente. Subi nos degraus, dava para se sentar com certo conforto neles, mas isso não era o meu objetivo, subi um de cada vez, sem presa, cada um continha um sentimento, cada um era único, mesmo eles sendo iguais, eles eram diferentes, na sua construção começou a diferença, cada segundo que se passava uma pequena diferença nascia, por isso eles eram idênticos mais diferentes. Subi o ultimo, era como se eu pudesse ver o mundo todo, ok!, exagero de minha parte, não podia ver todo o mundo, mas podia ver grande parte da cidade, as pessoas começaram a se aglomerar ao meu redor, finalmente minha decisão se tornou conhecida de todos, de longe eu escutava algumas vozes, nenhuma importante, era só bando de pessoas falando alto, olhei para trás, não tinha ninguém em especial atrás de mim, somente olhei para trás, dei um sorriso, um meigo e simples sorriso, as vozes cessaram, tudo era silêncio, tudo era como deveria ser...
Juro-lhe que não senti dor.
Mas eu saltei. Foi uma queda rápida, sem dor e sem medo, não havia raiva, ódio ou qualquer outro sentimento depreciativo, só realizei a minha vontade, fiquei feliz por isso, alguns falaram que eu fiz uma grande merda, outros tentaram entender o que me levou a fazer tal feito, mas nunca entenderam que esta era a minha vontade, esta era a minha Decisão, por isso eu pulei, foi exatamente como eu esperava, no que o meu corpo caia, eu via, sim eu via, não fecharia os olhos no momento mais glorioso da minha vida, eu via todo o mundo, nestes 3 segundos, eu vi toda a minha vida, não foi um filme que passou na minha frente, vi que minha vida durou não anos, mas 3 lindos e maravilhosos segundos. Esta foi a minha decisão. Assim foi feito.